30 de setembro de 2015

Sobre "A Lula e o Zeppelin" (II)

Sobre “A Lula e o Zeppelin” (II)

Continuando, antes alertando, porém, que o texto, como um todo, pode parecer um pouco truncado; mas, como falei na postagem anterior, quero abordar uma variedade relativamente grande de comentários.
Em nenhum momento eu fui (ou pretendi ir) além de simplesmente contar uma história; história essa, aliás, que a mídia inteira também está contando, juntamente com um monte de outras pessoas através da internet. Não sou só eu. Mesmo as coisas que fui deduzindo ao compor a letra, hoje me parecem comuns a várias outras pessoas. O que há de diferente, no meu caso, é só a forma, a maneira de contar, de contar o que já está na boca ou nos ouvidos do país inteiro. Não propus nada, não instiguei nada, não pleiteei nada, não pedi nada. Concluíram, sei lá com base em quê, que eu queria impeachment, renúncia, intervenção militar, golpe de Estado, rebelião... Não pedi nada. A única parte que pode ser interpretada como estando perto de eu ter pedido alguma coisa está no final da letra, quando eu falo em ‘sensatez’ e ‘liberdade’; mas falo de coisas que é preciso ter agora, enquanto elementos que considero necessários para a atual situação; não peço, mas isso pode, sim, ser interpretado como um pedido. Mesmo o ‘joga pedra’ e o ‘joga bosta’ não é um pedido, é só a expressão manifesta de um sentimento; e coletivo, pelo jeito (alguém aí concluiu que o Chico Buarque, na letra original, pedia que a Geni fosse apedrejada ou embosteada?).
Não pedi nada, repito. E se pedi foi só sensatez e liberdade.
Também não analisei nada, a não ser a coerência entre as estrofes que fazia e as informações sobre fatos aos quais eu tinha (e tenho) acesso. Alguns levaram a coisa para o campo ideológico (vou esmiuçar essa questão mais adiante, mas já adianto que errou feio quem concluiu que eu, por criticar alguém que se diz de esquerda, esteja defendendo a direita); em nenhum momento eu cheguei sequer remotamente perto de fazer qualquer referência, ainda que indireta, a alguma ideologia, qualquer que seja ela. Mas fui rotulado de reacionário, conservador, direitista, fascista, e mais um monte de outros conhecidíssimos adjetivos que a pseudo-esquerda brasileira gosta de atribuir aos outros. Não sou nada disso, nunca fui; fascismo e tudo o que lhe pode ser sequer semelhante me enoja, me dá náuseas, e qualquer estudante que seja ou já tenha sido meu aluno pode atestar isso. E se algum deles pensou isso de mim errou, me interpretou mal, não compreendeu o que fiz; e é por isso, em parte, que publico esta justificativa. Como professor, sinto-me na obrigação de esclarecer (já tentei isso em breves textos em algumas redes sociais, mas pelo jeito não surtiu muito efeito). Ainda vou retornar a esta questão político-ideológica, repito.
O que eu fiz foi arte, não política. Contei uma história através de rimas e versos dentro de uma música. E isso, até onde eu sei, é arte; pode ser medíocre ou não, mas é arte, uma interpretação esteticamente estruturada das coisas. Usei a política como enredo, sim, e isso é evidente; mas não foi no aspecto partidário ou ideológico, foi no aspecto moral. É previsível que a letra, envolvendo fenômenos políticos, acabe por ser usada para fins políticos, isso é óbvio, não sou ingênuo a ponto de não ter pensado nisso antes de fazê-la e publicá-la (tanto que eu termino o vídeo com a expressão, em latim, “a sorte está lançada”); porque não há como saber de antemão, exatamente, que impacto uma determinada obra vai ter; as previsões são vagas, não exatas (eu imaginava que iria provocar polêmicas políticas, por exemplo, mas saber exatamente quais estava fora de alcance; tanto que estou tentando me explicar; e não é o ‘Pupo compositor’ quem faz isso, é o ‘Pupo professor’). 
A mensagem foi transmitida, o recado foi dado. O meu recado. A minha interpretação das coisas. Alguns vão gostar, outros não, e isso eu considero admissível, pertinente, cabível; mas não sei se posso dizer o mesmo no que se refere a discordar ou concordar. Discordar do quê? De uma interpretação que é minha, como já falei? Do tesão intelectual que eu tive em expressar as coisas como eu as vejo? A interpretação de Picasso sobre o episódio em Guernica, por exemplo, que é suficientemente conhecida. Eu, particularmente, não gosto da obra, não faz meu estilo. Mas dá pra discordar de Picasso? Ele adulterou os fatos? Ou somente os interpretou a seu modo (que, aliás, não era só seu)? Os nazistas, com certeza, não interpretaram o mesmo episódio da mesma forma, com certeza também não gostaram da obra e com certeza também discordaram dela. Mas caberia discordar? Seria cabível? Picasso se enganou? Errou? Foi injusto? Foi falso? (Veja mais adiante argumentos específicos sobre o que pode ser elemento de discordância na paródia)
O que eu fiz foi só um exercício de criação. Escolhi um tema, encaixei numa música que já conhecia, e pronto. Um simples exercício de criação. E trabalhoso, diga-se de passagem. Não no que se refere à inspiração, a inspiração é intuitiva, vem num repente, não dá trabalho nenhum; dá até prazer, é um gozo que fecunda; trabalhoso é o depois, é o desenvolvimento do feto. Pois bem, eu, depois da inspiração, consumi mais de três meses ‘ruminando’ ideias, rascunhando, reconsiderando, corrigindo, testando rimas, remodelando frases, encaixando palavras, vasculhando sinônimos, conciliando letra e melodia, ajustando estrofes e rimas a um contexto real e não fictício (o que é bem mais difícil, já que me propus a não ‘inventar’ coisas só pra caber nessa ou naquela métrica, pra não ter que trocar essa ou aquela rima); tentei, enfim, arquitetar uma história coerente com começo, meio e fim, embasada na realidade conhecida e em versos rimados, numa estrutura musical grande, com 28 estrofes. Só um exercício de criação artística, tendo uma situação moral num fundo político como enredo.
E acho que fui bem-sucedido.
Deturpei ou adulterei a realidade? Não, não fiz isso, nem como ‘licença poética’; o que eu contei está na mídia toda, na imprensa toda, na boca e nos ouvidos de todos. As deduções são todas minhas, e ainda que condizentes com o que boa parte das pessoas já pensava, são minhas; e minha matéria-prima foi o conjunto de fatos dos quais posso tomar conhecimento pela imprensa. Se deduzi errado, foi por ter acesso apenas aos fatos que estão disponíveis, e que podem não ser a totalidade dos mesmos (daí eu ter dedicado um parágrafo inteiro, na postagem anterior, sobre dedução; tal método tem limites). Posso ter errado nas conclusões, mas se errei foi por falta de dados mais precisos. No geral, já pensei um bocado (antes, durante e depois de ter feito a letra), e continuo achando que não errei em nada. Aliás, é o que vou continuar achando até que alguém me apresente argumentos estruturados o suficiente pra me fazer mudar de ideia; argumentos, não afirmações teimosas de quem imagina ser o próprio Noé conduzindo a arca com a louvável responsabilidade de salvar a todos os que estão lá dentro e que nem sabem o que está acontecendo; argumentos, não chavões ou conceitos pré-estabelecidos como se fossem verdades bíblicas vindas de um deus infalível; argumentos, não informações sobre fatos cuja veracidade é só uma suposição tanto pra mim quanto pra quem me critica, pelo menos por enquanto (conheço um bocado sobre os meandros do poder para afirmar que, fora dele, nada é conhecido com certeza absoluta a não ser pela ótica da História: meu pai foi assessor do ministro do Interior em Brasília e eu trabalhei lá por quase cinco anos);  argumentos, não ofensas ou rótulos cujos significados, em boa parte dos casos, não são plenamente conhecidos por quem os pronuncia; argumentos, não desculpas indulgentes que se proponham a justificar o injustificável; argumentos, não constatações complacentes de que as coisas são assim mesmo e não poderiam ser de outra forma.

Continua...
(eu falei que ia longe...)




27 de setembro de 2015

Sobre "A Lula e o Zeppelin" (I)

Sobre “A Lula e o Zeppelin” (I)

Vamos lá. O link para o vídeo está logo abaixo do título da postagem pra quem quiser conferir o que eu vou expor.
Este texto é uma justificativa, talvez não muito breve, sobre a paródia que publiquei há cerca de um mês. Acho que devo isso, principalmente a meus alunos e/ou ex-alunos. Fui alvo de vários comentários (uns públicos, outros não,) a maioria elogiando (alguns, porém, desenvolvendo um raciocínio que eu mesmo não desenvolvi), mas alguns criticando (e eu imagino que, para cada crítica sobre a qual tomei conhecimento, devam existir algumas outras mais, não manifestas); daí esta justificativa, estou imaginando quantos mais não criticaram o que fiz sem nunca se manifestar, e quantos outros, ainda, não estão falando em meu nome coisas que eu, em verdade, não disse nem quis dizer.
O fato é que algumas dessas críticas, ainda que poucas (e digo o mesmo de alguns dos elogios, também) abordavam a questão de maneira tão desvinculada daquilo que eu efetivamente quis dizer que eu, a princípio, me espantei com tamanha variedade de conclusões (daí, em parte, a demora em publicar este artigo, tive que repensar uma porção de outras coisas): não cheguei nem perto de permitir concluir o que alguns concluíram, tanto em termos de elogio quanto de crítica.
Ou seja, posso admitir, agora, que esta exposição vai ser longa, como eu imaginava; tanto que pretendo publicá-la em mais de um bloco pra não tornar a leitura muito cansativa. Quero abarcar todo o leque de suposições que eu puder. Afinal, trata-se de mim mesmo e eu me considero extremamente importante pra mim, o suficiente pra dizer que não sei o que seria de mim sem mim. Eu realmente não sei. E pode parecer presunção, mas o mundo inteiro me seria um nada sem mim.
Pra começar, pude perceber um traço comum a alguns tipos de elogios e de críticas: a referência à minha ‘inteligência’. Ainda que de forma não explícita, uns refletiam uma certa ‘decepção’ a meu respeito, como se pensassem; “Admirava tanto a sua inteligência, mas agora... Que desilusão...! ”; e outros, ao contrário, talvez em singela e sincera admiração, pareciam estar dizendo: “Esse cara é mesmo um gênio! ”.
Eu, definitivamente, não me considero nem uma coisa nem outra, nem um estúpido e nem um sábio, apesar de me ser agradável imaginar, de vez em quando, que sou um gênio pouco reconhecido (vaidade todo mundo tem um pouco); penso a respeito de mim mesmo que sou apenas curioso, nada mais; li muito, estudei muito, viajei muito, convivi com quase todo  tipo de gente, da ralé à elite, busquei muito, conheci muito, aprendi muito, e questiono muito; tanto que chego a ser insuportavelmente irritante pra boa parte das pessoas que convivem comigo.
Sobre esse aspecto específico dos comentários, pra começar, vou perguntar: o que é ‘inteligência’?
De acordo com o dicionário, é o ‘conjunto de todas as faculdades intelectuais (memória, imaginação, juízo, raciocínio e concepção). ’
Inteligência é saber deduzir? Penso que, em parte, sim, mas apenas em parte; deduzir é somente um método de raciocinar, um método filosófico cujo nome é antiquíssimo, aristotélico; qualquer um que treine o suficiente saberá fazer isso. É só uma questão de treinar a própria mente (“tudo é treino”, como dizia meu amigo Carlos Gaspar). Vou enfatizar que é só um método, uma maneira de raciocinar; e ainda que seja o melhor que já apareceu ao longo da história, é só um método; mas presta-se ao conhecimento da realidade em termos contextuais, não absolutos; é algo que se presta a confirmar se essa ou aquela abordagem, elaborada a partir das informações disponíveis que podem ser conhecidas por este ou aquele observador, se encaixa num modelo que pode, de fato, representar a realidade. Só que as tais informações disponíveis podem não ser a totalidade das que são necessárias para uma correta interpretação da realidade. Ou seja, deduzir expõe mais a relação que se tem com essa ou aquela realidade do que a realidade em si. A realidade, mesmo, só a conheceremos ao longo da História (e, ainda assim, só as mentes lúcidas serão capazes de tal coisa, já que a História, ela própria, é resultante da interação com a realidade).
Inteligência é assimilar informações? É; em parte, mas é. É questionar? Certamente. É intuir? Um pouco. É criar? Também. É um pouco de tudo o que o dicionário diz, mesmo.
Dito isto, devo admitir que essa paródia acabou fazendo com que minha ‘inteligência’ (ou a falta dela) ficasse atrelada, e muito, aos julgamentos dos outros, alguns deles absurdamente desconexos. E antes de continuar, já que tudo o que escrevi até aqui é meramente uma introdução, vou repetir que não me considero nem estúpido nem sábio, só curioso; um meio-termo entre a ignorância e a sabedoria, uma ponte entre essas duas coisas. Talvez por isso, inclusive, eu goste tanto de fazer o que faço pra ganhar dinheiro; abandonei há muito tempo todas as pretensões de ir além; gosto do que faço e, principalmente, para quem eu faço; deixo mestrados e doutorados para os outros. Sou ponte, tenho plena consciência disso. Posso afirmar tal coisa, com certeza quase absoluta, porque é somente isso que eu busquei ser a vida inteira, ainda que de forma inconsciente. Ponte. Nunca quis ser outra coisa. Só ponte. Considerem-me como tal. Ligo, uno, conecto. Não sou meta, não sou ponto de chegada. Nunca quis ser. Contento-me em ser o que sou. Ponte. Algo a ser transposto. Quem quiser chegar a algum lugar que me use. Não sou lugar, não sou destino. Sou caminho.
Assim sendo, tenho vários recados a quem se desiludiu com a minha ‘inteligência’, seja fazendo a paródia ou expondo esta justificativa, e também a quem propagou como se fossem minhas as palavras e as ideias que eu sequer sugeri.

(continua)


7 de setembro de 2015

17 anos

17 anos


E se eu tivesse 17 anos, hein...? E se eu tivesse 17...? Não um 17 qualquer, desses que se vê por aí nos manuais, cheios de asteriscos e notas de rodapé, desses que são assinados por um profissional em psicoalgumacoisaqueeunãoentendo...! Não, não um desses 17, formal e rigorosamente composto pra ser uma tese, mas um 17 como eu gostaria que fosse...! Um 17 meu, somente meu, meu e comunitário como o de todos, sem diploma, sem TCC e nem pós-graduação,,,! Um 17 como se a vida fosse mágica, como eu pensava, e não decisiva, como todos me diziam...!
Decisiva ou mágica, esse era o drama: era mágica como eu queria ou decisiva como eles pensavam...? Mágica ou decisiva, eis a questão...!!! Eu achava que a magia era decisiva, ou que a decisão era mágica, sei lá... Nem sabia que 17 era um número tão poderoso...! Era mesmo uma idade...?
Talvez eu tivesse 17 anos...
Ouvia tantas coisas...! Tantos futuros estavam disponíveis...! Serão mesmo os mesmos caminhos? Ter 17 anos agora é o mesmo que ter 17 anos há 30 anos atrás? Ou daqui a trinta anos...? Somos todos tão iguais assim? É só isso? Ter 17 anos?
Como é simples!!!
Chegar aos 17 e tudo estar resolvido!
Pena que eu não soube escolher...! Hoje penso que a culpa é minha, só minha...! Passei pelos 17 sem me tocar da responsabilidade que era estar com 17...! Que pena...! Me disseram tantas coisas...! Tantos caminhos me foram ofertados...! E eu, com meus 17 anos, não soube escolher direito...!
Tsk, tsk...! Tadinho...! Tem só 17...!
Como é que era mesmo? Você tem tudo ao seu alcance, seu futuro todo está ao seu dispor...!! Cabe a você, agora, saber fazer a escolha certa...! Ninguém pode decidir por você! É o seu futuro, pense bem! Já está com 17...!
Já...? Nossa...!
Ah...! Se eu soubesse que dá pra ter 17 pra sempre...! Quanto do decisivo eu não teria abandonado em nome do que aos 17 era apenas e nada mais que magia...! Porque descobri que apenas a magia é duradoura... Que os 17 são eternos... Que apenas as decisões são efêmeras... Sim, são efêmeras... Passam, desaparecem assim que são tomadas... Depois é só o depois... A magia dos 17 não... A magia dos 17 é um agora esticado ao máximo pra caber o sempre...