14 de outubro de 2014

Um Vilarejo


Um Vilarejo

Sabem o que é conhecer um determinado lugar e se sentir tão parte dele, mas de forma tão íntima, tão intrínseca, e com tamanha sensação de aconchego, que o resto do mundo simplesmente desaparece? Que o resto do mundo simplesmente parece sumir, como se fosse irrelevante, supérfluo...? Ou como se o resto do mundo fosse nada mais que apenas uma fundação, um suporte, um alicerce... Necessário, por certo, já que tudo no mundo tem que ocupar algum lugar no espaço... Mas, ainda assim, uma simples fundação... Ou, então, como se o resto do mundo fosse apenas um entorno, um mero invólucro, uma película fina e finita a envolver um outro mundo, infinito e repentinamente reconhecido como imprescindível e essencial... Como se o resto do mundo fosse apenas um caminho, um espaço a ser percorrido antes de se chegar a esse outro mundo...

Sabem o que é isso...?

Pois bem, há um lugar onde o resto do mundo se torna um mundo alheio, marginal, passa a existir apenas na memória, como se fosse realmente um 'resto de mundo', como se fosse só a lembrança esmaecida de um passado que existiu apenas para permitir a existência do presente no qual estamos... Um lugar despretensioso que poderia ser um lugar qualquer, não fosse ser o que é...

Mas que lugar é esse...? Difícil defini-lo... É difícil descrever o indescritível e eu não sou, certamente, nem o primeiro e nem o único a tentar fazer isso.

É um vilarejo, modelado bem à beira de um encontro entre rio e mar.

Há um rio, portanto. Um rio que corre para o mar, como tantos outros... Mas que não é um rio qualquer, é especial. É um rio que marca a fronteira entre dois mundos distintos, um opressivo e o outro libertador... Um rio que vai desmontando cárceres enquanto é transposto, que põe de lado tudo o que é demais e que, portanto, é desnecessário... Um rio que parece deslizar e não correr, tamanha a suavidade de sua superfície... Um rio que, ao encontrar-se com o mar, parece uma criança curiosa dando as mãos a um adulto, tranquila, pra seguir segura em direção à imensidão dos horizontes a serem descobertos... Um rio que, ao longo do dia, ressalta todas as cores de todas as coisas ao seu redor, e que ao entardecer faz com que tudo, mas tudo mesmo, se torne um melancólico silêncio de tons reluzentes de prata... Um rio que hipnotiza, qualquer que seja a hora... Que convida a navegar com os olhos...

Nesse vilarejo há uma infinidade de cores materializadas em paredes, paredes que parecem existir apenas para embelezar e não para obstruir, delimitar ou proteger... Paredes construídas para abrigar vida, não patrimônio... Paredes que brotam da terra como se fossem flores em meio a uma vegetação exuberante que a tudo emoldura, rio, mar, céu e chão...

Aliás, o chão não é bem chão... Não como se está acostumado a ver ou pisar... Nada do calçamento brutal que violenta a terra apenas para facilitar um fluxo de sei lá o quê que possa ser mais importante que os pés descalços a deslocar a areia... Areia de praia, grossa, que se esparrama pavimentando todas as ruas e avenidas, substituindo a dureza de um asfalto infértil... Areia fofa, macia, morna e envolvente como os abraços e os corações de seus moradores...

Não, não é um lugar apropriado para se fazer negócios, não se trata de um mercado. Que evite tal lugar quem pretenda enriquecer, lá o dinheiro é só o que sempre foi, apenas um instrumento de troca. Lá se fazem amigos, não investimentos. E sob um sol que brilha menos que o sorriso de seus habitantes.

Veículos? Só os que são movidos a patas ou calcanhares. Congestionamento é um par de jumentos disputando a mesma vegetação à beira das cercas de madeira que, cobertas de verde, margeiam as ruas.

O céu noturno...! Ah, o céu...! É o céu colossal dos deuses, o céu primordial do paraíso perdido...! Sem postes iluminados que sequestrem as estrelas e que obriguem a olhar para o chão...! Caminhar pela noite é respirar luar, é envolver-se de penumbra prateada... Deitar-se numa rede é o mesmo que navegar por entre estrelas onde a alma possa brincar, nadar e mergulhar de vez em quando...!

É realmente difícil descrever um lugar indescritível... Um lugar de onde sequer se recorda da existência do resto do mundo... De onde o resto do mundo parece distante, perdido... E de onde, talvez, só me seja possível afirmar que o resto do mundo, de lá, parece tornar-se realmente apenas um ‘resto de mundo’, um meio para se chegar a um fim e não um fim em si... Sequer desperta saudade... E eu não sei bem ao certo nem mesmo o que seria esse ‘resto do mundo’, visto de lá...  Mas posso afirmar, com certeza, que todo o resto do mundo começa onde termina Caraíva...

19 de maio de 2014


Sobre “O Viajante” (de novo)

Conforme postado na publicação anterior (http://blogdopupo.blogspot.com.br/), na qual eu comunicava uma notícia ruim e outra boa a respeito do meu livro, finalizo a sequência de dois textos com a notícia boa, repetindo que a considero boa não somente para mim, mas também para quem o desejar ler daqui em diante.

Ao mesmo tempo, esta postagem serve  para esclarecer duas outras coisas mais: uma, porque algumas pessoas tentaram adquirir o livro no site das editoras (Clube dos Autores e PerSe) e não o encontraram disponível para venda; e, duas, porque o meu blog sobre o livro (“Projeto de Livro – O Viajante”) está, também está indisponível.

Todas as questões acima citadas referem-se a uma única e mesma coisa: acabei de fechar contrato com a Chiado Editora, de Portugal, cedendo a ela os direitos de publicação do livro “O Viajante”, bem como já começo a negociar a publicação de “Bonito, Cavernas e Trens”, também com a mesma editora, para o próximo ano.

Isso explica que: primeiro, como os direitos de publicação, a partir da assinatura do contrato, são exclusivos da Chiado Editora, o livro não mais poderá ser comercializado por nenhuma outra editora, nem mesmo pelo sistema de autopublicação, para compras via internet, como era antes, e como eu fiz na noite de pré-lançamento (os direitos de publicação e venda, a partir de agora, são exclusivos da Chiado Editora); segundo, eu não posso mais, por força de contrato, divulgar o conteúdo da obra, total ou parcialmente, por nenhum meio (daí eu ter retirado o blog de “O Viajante”).

Evidentemente, eu estou em estado de graça, daí ter escrito que a notícia é boa para mim (aliás, é ótima, e eu estou, literalmente e apesar dos problemas na voz, “com uma vontade danada de mandar flores ao delegado, bater na porta do vizinho e desejar bom dia e de beijar o português da padaria”, como já disse a algumas pessoas). Meu livro, a partir deste ano, vai ter alcance internacional, e será lançado simultaneamente no Brasil e em Portugal, com abertura para comercialização também em outros países de língua portuguesa (como Angola e Moçambique, por exemplo). O contrato também estabelece que, se a vendagem for boa (3 mil exemplares), o livro será traduzido para o inglês  E para o espanhol, podendo assim alcançar EUA, Inglaterra, Espanha, Argentina... Consegui abrir uma imensa porta para o mundo, agora é esperar e torcer por bons resultados. Vou poder testar, realmente e sem sentimentalismo, se o livro é realmente bom.

Tenho motivo de sobra, portanto, para dizer que a notícia é boa pra mim.

Mas creio que será boa para os leitores também. Sendo uma editora de grande porte, a Chiado tem alcance mundial e, consequentemente, dispõe de mecanismos eficazes de distribuição da obra para fazer com que o livro chegue a todas as grandes redes de livrarias tanto no Brasil quanto na Europa, seja em formato impresso ou em e-book (Livraria Cultura, Saraiva, SóLivros, Bertrand, Amazon, FNAC...). Assim sendo, os leitores terão, a meu ver, as seguintes vantagens: primeiro, não terão que pagar frete para receber o livro, pois poderá ser comprado em qualquer livraria; segundo, como a tiragem inicial será de mil exemplares, o preço deve cair, e muito (tais preços não serão controlados por mim, que vou continuar recebendo apenas os direitos autorais, mas o preço final, com certeza, será mais acessível); terceiro, a encadernação será melhor; e quarto, o livro estará disponível em qualquer cidade para ser adquirido sem ‘prazo de entrega’ ou ‘período de espera’ (pagou, pegou).


Peço desculpas a quem acompanhava os capítulos do livro pelo blog (20% dos seguidores eram de fora do Brasil, principalmente dos Estados Unidos), pois tive que excluí-lo; essa é uma chance de outro que eu não podia perder, sinto muito ter tirado o blog do ar. 

Enfim, acho que essa notícia é boa para mim e para os leitores.

Ainda estamos, eu e a Editora, em fase de composição do livro (capa, diagramação, etc.), mas acho que até agosto o livro sai. E aí, como a Chiado vai me mandar cinquenta exemplares,  vou fazer uma cerimônia de lançamento, mesmo (e não pré-lançamento, como fiz no começo deste mês), de forma que quem não conseguiu adquirir o livro naquela época vai ter uma nova oportunidade para isso; mesmo porque talvez eu faça esse lançamento em etapas, em todas as cidades nas quais eu dou aulas, ainda que dentro das  escolas, durante os intervalos, mesmo (não sei, ainda vou pensar nisso).

Bom, era isso o que eu tinha pra comunicar. Torço para que quem torce por mim, e que já me apoiou e ainda apoia, que continue torcendo e apoiando, pra que eu continue indo pra frente e pro alto, sempre. Quem já leu e gostou, que divulgue o livro no momento oportuno (isso só se realmente gostou, não quero atitude inadequada que contradiga tudo o que valorizo na minha vida e em sala de aula). De minha parte, torço pra que o livro seja útil, pois foi escrito pra isso.

E, se por acaso algum estudante pensou nisso, não vou parar de dar aulas, não, mesmo que me transforme num escritor famoso internacionalmente. Adoro o que faço. Aliás já estou até com saudade de entrar numa sala de aula (saudade de trabalhar, vê se pode, nem parece que sou brasileiro!).

Aliás, só pra matar a saudade: “este não é um país normal”,  “povo é massa de manobra”, “isto é Brasil”, “fodam-se” e tudo o mais que faz parte do meu sábio repertório de bobagens.




16 de maio de 2014


AOS QUE ADQUIRIRAM A 1ª EDIÇÃO DE “O VIAJANTE”

Dou início a esta sequência de dois textos pedindo desculpas. Tenho duas coisas a comunicar, uma muito boa (pelo menos para mim) e outra ruim (tanto para mim quanto para os leitores), sendo que este primeiro texto é dedicado exclusivamente aos que compraram a 1ª edição (edição independente, por autopublicação) do livro feita para a na noite de lançamento.

Começando pela ruim, que é o motivo das desculpas iniciais.

Há uma quantidade grande de erros na impressão do livro (alguns até grosseiros, como a conjugação do verbo ‘vir’ como se fosse ‘ver’ na terceira pessoa do plural) e, apesar de apenas uns poucos comprometerem o entendimento correto do texto, quase todos são de responsabilidade minha ( procurarei reproduzi-los ao final deste comunicado).

O fato é que não sei o que foi que aconteceu para que esses erros acabassem constando justamente na primeira edição, na qual todo o esmero possível seria pouco; mesmo porque a maior parte dos capítulos do livro já estavam publicadas no blog com o mesmo nome, e sem esses malditos erros; ou seja, bastava ‘copiar e colar’ para mandar tudo para a editora.

Não sei o que aconteceu. Talvez o fato de eu ter tido que trocar de computador enquanto fazia a montagem do livro (já que meu computador antigo ‘deu pau’ bem no meio do trabalho), talvez os dados que eu tinha no pendrive não estivessem todos corrigidos quando os repassei ao novo computador, talvez eu os tenha errado ao digitar sem o devido cuidado, talvez o fato de que eu tenha que ter feito todo o processo sozinho (autoria, edição, design e montagem de capa, diagramação, formatação, revisão, digitação, negociação, tudo, enfim, menos imprimir, da hora que o livro saiu da minha cabeça até eu receber pelo correio), talvez desatenção pura e simples... Mas qualquer que seja a razão, a responsabilidade é minha; envolve falta de dedicação; relaxo, mesmo; o livro é um dos projetos prioritários na minha vida; é inadmissível que tais erros tenham ocorrido.

Eu já havia lido, várias vezes (não me lembro onde), que o autor não deve ficar responsável pela revisão gramatical e ortográfica da obra, mas não entendia direito por quê. A mim parecia que, se a revisão fosse feita por outrem, isso indicaria despreparo ou desconhecimento, por parte do autor, em relação à língua na qual escreve. Mas agora eu acho que entendo o porquê: é que o autor, fazendo ele próprio a revisão, acaba misturando, mesmo sem querer, conteúdo com forma, e acho que a maior parte dos erros pode ser justificada em função disso. Cada vez que eu relia a obra, acabava por mexer em alguma coisa no conteúdo (uma palavra mais adequada que a anterior, uma forma mais objetiva ou mais clara de expressar um pensamento, uma frase mais impactante, etc.); e aí, redigitando um detalhe desse tipo, acabava excluindo alguma outra parte do conjunto (que deveria estar lá), ou então acabava incluindo outras (que não deveriam estar lá, truncando, assim, a frase ou o parágrafo como um todo, ou deixando-o confuso).

Há erros que são evidentemente de digitação (como duplicação indevida de letras numa mesma palavra, por exemplo); mas há outros que são extremamente grosseiros (como a já citada troca da conjugação dos verbos ‘vir’ e ‘ver’ na terceira pessoa do plural), que são um estupro no idioma, e esse tipo de erro é imperdoável (mesmo que tal coisa só tenha ocorrido em dois ou três capítulos,  no resto a conjugação está como deveria, sei lá que porcaria que me deu fazer isso); há dezenas de sites na internet mostrando a conjugação correta de todos os verbos, e eu os consultava a cada dúvida, daí dizer que é imperdoável. Desatenção, falta de concentração, pressa, falta de mais dedicação numa coisa tão importante. Mea culpa.

Mas essa era a notícia ruim.

A boa é que consegui negociar o livro com uma editora maior, e portanto o livro vai ser lançado de novo, espero que com mais profissionalismo, inclusive de minha parte. Aliás, foi relendo a obra para mandar para essa outra editora que eu descobri o tanto de erros que existiam, o que foi outra falha minha: deveria ter, primeiro, comprado um único exemplar para ler previamente e ver se estava tudo em ordem antes de comprar os quarenta e cinco que vendi na cerimônia de pré-lançamento. Babaquice, já me xinguei pra caramba a cada vez que via um erro no livro (uau, consegui praguejar sem usar palavrão!).

Mas essa boa notícia eu vou detalhar no próximo comunicado, inclusive explicando por que considero a notícia boa tanto pra mim quanto para os leitores (não se esqueçam que este texto é de interesse apenas de quem comprou o livro no pré-lançamento (o que é o mais triste nisso tudo, já que foram lá pra me prestigiar; vocês talvez não possam imaginar como me sinto mal); os próximos leitores do livro não terão nada a ver com isso (espero!).

Segue abaixo a relação de erros, pra quem quiser ‘consertar’ se por acaso provocaram alguma significação incorreta do que foi escrito; e esclareço que a paginação discriminada se refere à edição do Clube dos Autores (na edição da PerSe os números das páginas não são os mesmos, mas não me sobrou nenhum exemplar dela para que eu possa dar como referência, então identifico por capítulos, em vermelho):

  1. A maldita conjugação errada do verbo ‘vir’: pág. 109, 2º parágrafo (cap. XXVI); pág. 127, último parágrafo ( cap. XXIX ); pág. 128, 5º parágrafo (cap. XXIX); pág. 135, 2º parágrafo (cap. XXXI);
  2. Pág. 55:  há um ‘com’ sobrando, bem na primeira linha no topo da página;(cap. XV)
  3. Pág. 71: no 5º parágrafo há um ‘neles’ que deve ser ‘nelas’; (cap. XVII)
  4. Pág.  101: 9º parágrafo, falta um ‘que’ (“... para a perfeição, sem que a tenhas...”); (cap. XXIV)
  5. Pág. 103: no final do 5º parágrafo, em vez de ‘recebeste’ é recebeu; (cap. XXVI)
  6. Pág. 115: 5º parágrafo, faltou um ‘que’ ( “Passado que reside...”); (cap. XXVII)
  7. Pág. 117: 1º parágrafo, sobra um ‘que’ (“... De um tempo em que meu pensamento que fluía por uma...”); (cap. XXVIII, bem no começo)
  8. Pág. 168: última linha do último parágrafo, leia-se ‘outro’ em vez de ‘outra’; (cap. XXXV)
  9. Pág. 245: sobra um ‘através’ (“...o que te lanço através em forma de...”); (cap. XLIX)
  10. Pág. 249: 3º parágrafo, 4ª linha, o ‘m’ de ‘com’ foi duplicado (“comm”); (cap. LI)
  11. Pág. 277: 2ª linha do 2º parágrafo do capítulo, substitui o não vai” por ‘não vás’, que é a conjugação correta (imperativo); (cap. LXI)
  12. Pág. 279: último parágrafo, 2ª linha, excluir o ‘de’ (“...Tu concluis de que teu Deus...”); (cap. LXI)
  13. Pág. 303: no 2º parágrafo, excluir o ‘o’ da primeira linha (“...Ou então esse o Deus...”); no 6º parágrafo, corrigir para 3ª pessoa do plural (‘poderás’ por ‘podereis’, ‘tua’ por ‘vossa’, ‘te’ por ‘vos’); (cap. LXX)
  14. Pág. 313: 1º parágrafo, falta o texto depois do segundo travessão (“― E pensas ser esse tipo de semente, Velho? ― perguntei-lhe ― Viajaste...”); (cap. LXXII)

Bom, gente, os erros eram esses. Garanto que na próxima impressão esses erros estarão ausentes. Estou com tempo de sobra pra me dedicar a isso, infelizmente. No próximo texto eu exponho a ‘boa notícia’.

Sinto muito, e novamente me desculpo perante os que compraram o livro, por não ter visto esses erros antes de mandar imprimir.

13 de abril de 2014

Sobre "O Viajante"


Sobre o pré-lançamento de “O Viajante”



Apenas um agradecimento e muitas desculpas.

Desculpem-me, se esqueci de convidar alguém. Usei, basicamente, o Facebook, pois achei que isso incluiria todas as pessoas que fazem parte do meu círculo de convivência, sem considerar que nem todos são frequentadores assíduos das redes sociais; e, mesmo entre os que o são, muitos sequer foram convidados, pois não descobri a tempo como convidar a todos simultaneamente, e clicar em cada um dos meus mais de três mil contatos, um por um, não me foi possível por falta de tempo. Muitos ficaram de fora.

Desculpem-me.

Desculpem-me, por demorar tanto para me manifestar e agradecer. Só agora tive tempo pra escrever alguma coisa e, ainda assim, talvez eu não esteja tendo realmente esse tempo, já que tive aulas a dar e muitas e muitas provas para corrigir.

Desculpem-me.

Desculpem-me, por não lembrar direito o nome de todas as pessoas a quem escrevi alguma dedicatória nos livros. Mesmo querendo muito eu não me lembro. Costumo brincar dizendo que, tendo feito a faculdade que fiz, só me lembro dos nomes de quem viveu há mais de cem anos; mas isso é só uma forma de contornar uma falha que eu realmente tenho, falha essa que pode ser considerada grande ou pequena, mas que não deixa de ser falha e não me isenta da culpa ou da sensação de culpa. Mas não gostaria (e nem quero) que isso fosse considerado como descaso, indiferença, desprezo, desconsideração ou qualquer outra coisa desse tipo, pois não é. Simplesmente não sou capaz disso. Mas não é menosprezo. Considerem-se, todos, estrelas em minha vida, se isso facilitar o entendimento do que quero dizer: não sei qual é Sirius, Antares, Aldebaran, Vega ou Alpha Centauri, mas isso não as faz deixar de brilhar e nem afeta a beleza do meu céu.

Desculpem-me.

Desculpem-me por tentar justificar minhas desculpas.

Mas agradeço. Agradeço pelo carinho de todos, presentes e ausentes. Porque o astral me pareceu celestial. Porque estou em estado de Graça. Porque, num país como o nosso, consegui reunir tanta gente por causa de um livro. Porque estimulei a ler. Porque estimulei a escrever. Porque estimulei a pensar. Porque revi velhos amigos. Porque pude fazer amigos novos. Porque pude reinventar a todos em minha mente. Porque servi para unir. Porque a palavra, uma vez escrita, torna-se imortal. E porque, ainda que alguns vejam só palavra, outros verão compreensão; e onde alguns viram festa, outros verão caminho.

Agradeço.



27 de janeiro de 2014

O Reino da Mediocridade (II)


 
O REINO DA MEDIOCRIDADE (II)
 
Há tempos venho tentando escrever este segundo ‘Reino da Mediocridade’ sem, entretanto, publicá-lo. Pelo menos desde julho, quando publiquei o primeiro.
Por quê?
Porque a cada vez que eu imaginava  um exemplo absurdo de mediocridade sobre o qual eu poderia escrever, mal eu iniciava a redação e logo em seguida aparecia um outro, o que me levava a tentar incluí-lo também; só que antes que eu terminasse de incluir esse outro aparecia outro, e depois outro, e outro, e outro... Comecei a perceber que o assunto era inesgotável, fecundamente inesgotável, e que se eu fosse incluir todos eles num único texto, com uma redação bem elaborada como no primeiro, não terminaria nunca.
Resolvi publicá-lo hoje, com todos os tópicos (sem nada de rebuscado), porque anteontem (dia 25 de janeiro de 2014) a mediocridade superou-se no que havia (ou há) de mais inimaginável.
O cantor  e compositor Renato Teixeira (http://www.renatoteixeira.com.br/site/) deu um show no Espaço Vívere Eventi (http://www.vivereeventi.com.br/), aqui em Araçatuba, organizado pelo SESCOOP – Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo no Estado de São Paulo (http://www.ocb.org.br/site/sescoop/).
E famílias inteiras tiveram que voltar pra casa porque foram impedidas de entrar devido a um alvará que proibia a permanência, no recinto, de menores de 12 anos de idade, mesmo estando na companhia dos próprios pais! O alvará em questão, requerido pelo representante da SESCOOP, Sr. Jeferson Pasqualoto, assinado pelo Exmo. Sr. Dr. Adeilson Fereira Negri, e datado de 24 de janeiro de 2014 provocou uma série de situações constrangedoras. Cenas de revolta, decepção e tristeza (presenciei várias delas nos quinze minutos que fiquei do lado de fora do recinto, atônito, tentando entender as razões de tal decisão) eclodiam aos montes em meio ao absurdo insólito da situação. Casais desconcertados com suas crianças de colo, pais cabisbaixos tentando explicar o que acontecia a seus filhos pequenos, crianças chorando sem saber por que estavam sendo impedidas de entrar...! Todos com os ingressos nas mãos tentando entender o que ocorria... Inclusive gente que já fez (e faz) muito mais pela vida cultural da cidade do que qualquer um dos organizadores do evento! Gente de bem! Tanto que não presenciei nenhum gesto ou atitude de insubordinação, desafio ou desacato. Gente culta, gente de bem, consciente tanto dos seus direitos quanto de sua impotência perante o poder público! Entristecida, revoltada, enraivecida, mas sem reagir com ignorância à ignorância da qual estavam sendo vítimas!
E todos impotentes, de mãos atadas...! Era a lei...! Era o ‘todo poderoso’ aparelho de Estado atropelando o cidadão de bem com toda a sua mediocridade.
E não se trata só de questionar se essa decisão foi tomada por iniciativa do requerente do alvará ou do Sr. Juiz que o emitiu. É mais do que simplesmente culpar alguém. Está além disso.
Primeiro, quais razões teriam levado alguém a proibir a permanência de menores de 12 anos no recinto. Não consigo pensar sequer em uma! Um espetáculo musical, sem nada de ofensivo ou degradante, muito ao contrário, com um cantor nacionalmente reconhecido, de boa música sertaneja de raiz (e não essa ‘breguice’ medíocre de ‘agroboys’),  num show respeitável e respeitoso de menos de duas horas de duração...! E num ambiente onde não havia sequer um único bar vendendo nada, nem água! Por que impedir o acesso de crianças a esse tipo de espetáculo? Principalmente se considerarmos o que acontece anualmente na exposição agropecuária de Araçatuba, onde, por diversas vezes ao longo de mais de uma semana, artistas medíocres vomitam indiscriminadamente (inclusive sobre crianças menores de 12 anos) seu repertório vulgar em apresentações também medíocres (e às vezes ainda permeadas de obscenidades em palavras, gestos e coreografias), e isso num ambiente caótico onde se pode, inclusive, consumir bebidas alcoólicas a cada vinte ou trinta metros!
Isso pode?
Pode, vivemos no Reino da Mediocridade. E a mediocridade é tanta que, depois de publicar este texto, certamente algum imbecil vai propor alguma restrição à permanência de crianças na exposição agropecuária.
Segundo, e independentemente das razões que levaram a tal proibição (se é que existem), o que se deve considerar, ainda  e talvez acima de tudo, é o papel do Estado, ainda que num nível municipal, na vida do cidadão que normalmente só quer levar a vida em paz sem ser atrapalhado em seu cotidiano já tão minuciosamente controlado e limitado. A coisa toda foi de um absurdo imensurável, mas ninguém podia fazer nada, absolutamente nada! Não havia a quem recorrer (polícia, tribunal, ONG, nada), pois tratava-se de uma decisão judicial já estabelecida! Não havia o que fazer, era fato consumado, qualquer atitude contestatória se transformaria depois num imenso problema judicial, acarretaria ‘as penas da lei’, como manifesto no alvará; essas mesmas ‘penas da lei’ que, como se vê nesse episódio, não foram feitas para beneficiar o cidadão de bem que, mesmo sendo pacato, acaba sendo vítima tanto dela quanto do poder que a faz ou aplica. Pais foram mutilados em seus direitos de proporcionarem a seus filhos um espetáculo de extrema riqueza cultural, e que poderia enriquecer, e muito, a formação musical dessas mesmas crianças que foram impedidas de entrar; e por parte do mesmo poder público que deveria garantir esse direito; e numa cidade onde eventos culturais de qualidade nacional são escassos; e num evento que se propunha a ‘estimular a vida cultural da cidade’ (conforme dito ao microfone pelos organizadores do evento)...
A situação me pareceu, de fato, muito revoltante (tanto que estou escrevendo sobre ela).
Enfim, resolvi publicar este “Reino da Mediocridade II” no sopetão, sem nada de rebuscado, como já escrevi antes nos primeiros parágrafos deste texto; porque se eu for incluir todos os absurdos medíocres que presencio vou passar o resto da vida só escrevendo, sem nunca terminar. É muita coisa, esse episódio do dia 25 foi só a gota d’água, o empurrão final.
Segue abaixo os rascunhos de tudo o que eu já havia escrito e pensava publicar de forma mais adequada em termos literários, sem muita preocupação estética.
No Reino da Mediocridade...
Os jovens podiam votar já a partir dos 16 anos de idade. Não podiam dirigir um carro, pois a carteira de habilitação só podia ser requisitada a partir dos 18 anos; mas podiam votar. Ou seja, podiam dirigir o país mas não podiam dirigir um automóvel.
Menores de 18 ano também não podiam jogar bilhar, apesar de poderem jogar videogames onde tinham condição de portar armas de todos os tipos, atirar à vontade, arrancar cabeças, explodir pessoas, roubar carros, atropelar velhinhas e crianças, espancar, mutilar... Ou seja, todas as atrocidades que violentam a civilidade e caracterizam a barbárie eram permitidas quando se tratava de um videogame, mas jogar bilhar não se podia, nem na companhia dos próprios pais; pois provavelmente os legisladores consideravam que jogar bilhar poderia, de alguma forma, corromper os jovens em seu caráter.
Faziam leis, ah, como faziam! Adoravam isso! Mesmo as mais imbecis! E os súditos, sempre coniventes, apoiavam e pediam mais! Nunca se fartavam de mediocridade! Alguns legisladores até faziam campanha eleitoral alardeando que eram os que mais projetos de lei apresentavam! Se essas leis eram ou não fundamentadas no bom-senso era irrelevante, pois era o Reino da Mediocridade. O que importava era a quantidade de leis.
Não gostavam de cigarros, então o proibiram, mas somente em ambientes fechados. E disso resultou que os fumantes tinham que se dirigir aos bosques, às praças, aos ambientes ditos ‘abertos’ para poderem fumar. Criou-se, assim, uma situação inusitada: bares e boates estavam com ar puríssimo, dignos de uma UTI de hospital de primeiro mundo; e os bosques e as praças (onde pessoas sensatas poderiam esperar respirar ar puro) exalavam fumaça, estavam poluídos. E isso sem falar na liberdade de escolha que aleijaram, impedir as pessoas de escolherem se preferiam abrir mão da fumaça ou do ar puro (transformaram ar puro em opção, não em direito).
Faziam leis. Porque leis são feitas para soterrar argumentos, já que argumentos convencem e leis são feitas para obrigar.
Era tudo muito estranho.
Criaram um estado laico, ou seja, desvinculado da religião. Mas o dinheiro que emitiam e que circulava livremente continha a inscrição ‘Deus Seja Louvado’; e sua Constituição fora promulgada ‘em nome de Deus’.
Era estranho.
A ‘propina’ era legalizada com vários outros nomes diferentes e imposta aos súditos. Você, enquanto súdito, tinha que pagar a eles para poder comprar alguma coisa com o seu dinheiro (porque eles, e só eles, os sábios legisladores da Corte, tinham poder para permitir isso); mas depois disso você, o súdito, que havia comprado um bem com o seu dinheiro, ainda tinha que continuar pagando a eles pelo que você já tinha pago (para os menos entendedores, IPTU, IPVA, IR e outras siglas mais que eles inventaram para não falar ‘propina’, pois propina era proibido); ou seja, você tinha que pagar para manter o que você já havia adquirido.
Educação era alvo de legislação, não de argumentação. Parece que não queriam que argumentassem; bastava ceder, não compreender.
Precisavam que se obedecesse, nada mais. E ainda inventaram uma série de leis para se protegerem da argumentação (tinha algo a ver com ‘desacato à autoridade’).
Era o único reino do mundo no qual se considerava que educação deveria ser objeto mais de legislação que de educação. Afinal de contas, todos tinham por certo que quem fazia as leis era educado, instruído, culto e sábio.
Os outros não. Os outros eram só ‘rebeldes’, terroristas, oportunistas que só queriam aparecer.
Proibiram celulares nas escolas; era mais fácil que convencer. Proibir não era lá o que se pudesse chamar de educar, ainda mais em uma escola; mas era mais fácil e ainda fazia as Cortes melhor vistas pelos súditos esfomeados por leis.
Com certeza estavam tramando também implantar uma lei que obrigasse a levantar a tampa da privada. Afinal de contas, mijar aonde os outros vão se sentar não era considerado boa educação. E as Cortes sabiam que educação só se adquire com leis. Sabiam que educação era algo a ser imposto, não aprendido. E com certeza algum estúpido iria, depois, legislar sobre a obrigação de chacoalhar depois de mijar, querendo ‘aperfeiçoar’ a lei, sem nunca questionar se ela deve ou nãos ser feita ou aplicada. Afinal, era lei, não regra; regra se poderia discutir, negociar e combinar, mas isso não era interessante; colocaria a ‘sabedoria’ das Cortes sob a avaliação de cidadãos ‘oportunistas’.
Tomar uma lata de cerveja e pegar um carro pra dirigir era algo inadmissível, pois afirmavam que quem fazia isso não estaria em condição de conduzir um veículo e ao mesmo tempo estaria assumindo o risco de matar; mas tomar baldes de cerveja e pegar um revólver, ah, esse não fazia  nada de errado que motivasse a elaboração de uma lei desse tipo! Não, claro que não! Quem toma uma cerveja e empunha uma arma está perfeitamente em condições de conduzi-la! E quem empunha uma arma jamais estaria assumindo o risco de matar! Jamais! Estaria, talvez, querendo... Vejamos... Caçar...?
Milhões de súditos foram às ruas protestar contra um aumento de vinte centavos nas passagens de ônibus de uma única cidade do Reino; mas alguns meses depois, nessa mesma cidade, os impostos imobiliários seriam aumentados em mais de 50% e ninguém foi pras ruas; provavelmente já imaginando que iriam todos acabar nas ruas, mesmo, cedo ou tarde, pois não aguentariam pagar esses impostos...
Afinal, esse era o Reino da Mediocridade...