Sobre
“A Lula e o Zeppelin” (II)
Continuando, antes alertando, porém, que o
texto, como um todo, pode parecer um pouco truncado; mas, como falei na
postagem anterior, quero abordar uma variedade relativamente grande de
comentários.
Em
nenhum momento eu fui (ou pretendi ir) além de simplesmente contar uma história;
história essa, aliás, que a mídia inteira também está contando, juntamente com
um monte de outras pessoas através da internet. Não sou só eu. Mesmo as coisas
que fui deduzindo ao compor a letra, hoje me parecem comuns a várias outras
pessoas. O que há de diferente, no meu caso, é só a forma, a maneira de contar, de contar o
que já está na boca ou nos ouvidos do país inteiro. Não propus nada, não instiguei
nada, não pleiteei nada, não pedi nada. Concluíram, sei lá com base em quê, que
eu queria impeachment, renúncia, intervenção militar, golpe de Estado, rebelião...
Não pedi nada. A única parte que pode ser interpretada como estando perto de eu
ter pedido alguma coisa está no final da letra, quando eu falo em ‘sensatez’ e
‘liberdade’; mas falo de coisas que é preciso ter agora, enquanto elementos que
considero necessários para a atual situação; não peço, mas isso pode, sim,
ser interpretado como um pedido. Mesmo o ‘joga pedra’ e o ‘joga bosta’ não é um
pedido, é só a expressão manifesta de um sentimento; e coletivo, pelo jeito (alguém
aí concluiu que o Chico Buarque, na letra original, pedia que a Geni fosse
apedrejada ou embosteada?).
Não
pedi nada, repito. E se pedi foi só sensatez e liberdade.
Também
não analisei nada, a não ser a coerência entre as estrofes que fazia e as
informações sobre fatos aos quais eu tinha (e tenho) acesso. Alguns levaram
a coisa para o campo ideológico (vou esmiuçar essa questão mais adiante, mas já
adianto que errou feio quem concluiu que eu, por criticar alguém que se diz de esquerda,
esteja defendendo a direita); em nenhum momento eu cheguei sequer remotamente
perto de fazer qualquer referência, ainda que indireta, a alguma ideologia,
qualquer que seja ela. Mas fui rotulado de reacionário, conservador, direitista,
fascista, e mais um monte de outros conhecidíssimos adjetivos que a
pseudo-esquerda brasileira gosta de atribuir aos outros. Não sou nada disso,
nunca fui; fascismo e tudo o que lhe pode ser sequer semelhante me enoja, me dá náuseas, e
qualquer estudante que seja ou já tenha sido meu aluno pode atestar isso. E se
algum deles pensou isso de mim errou, me interpretou mal, não compreendeu o que
fiz; e é por isso, em parte, que publico esta justificativa. Como professor,
sinto-me na obrigação de esclarecer (já tentei isso em breves textos em algumas
redes sociais, mas pelo jeito não surtiu muito efeito). Ainda vou retornar a
esta questão político-ideológica, repito.
O
que eu fiz foi arte, não política. Contei uma história através de rimas e
versos dentro de uma música. E isso, até onde eu sei, é arte; pode ser medíocre
ou não, mas é arte, uma interpretação esteticamente estruturada das coisas.
Usei a política como enredo, sim, e isso é evidente; mas não foi no aspecto
partidário ou ideológico, foi no aspecto moral. É previsível que a letra, envolvendo
fenômenos políticos, acabe por ser usada para fins políticos, isso é óbvio, não
sou ingênuo a ponto de não ter pensado nisso antes de fazê-la e publicá-la
(tanto que eu termino o vídeo com a expressão, em latim, “a sorte está
lançada”); porque não há como saber de antemão, exatamente, que impacto uma
determinada obra vai ter; as previsões são vagas, não exatas (eu imaginava que
iria provocar polêmicas políticas, por exemplo, mas saber exatamente quais
estava fora de alcance; tanto que estou tentando me explicar; e não é o ‘Pupo
compositor’ quem faz isso, é o ‘Pupo professor’).
A mensagem foi transmitida, o
recado foi dado. O meu recado. A minha interpretação das coisas. Alguns
vão gostar, outros não, e isso eu considero admissível, pertinente, cabível; mas
não sei se posso dizer o mesmo no que se refere a discordar ou concordar.
Discordar do quê? De uma interpretação que é minha, como já falei? Do tesão intelectual que eu tive em expressar as coisas como eu as vejo? A interpretação
de Picasso sobre o episódio em Guernica, por exemplo, que é suficientemente
conhecida. Eu, particularmente, não gosto da obra, não faz meu estilo. Mas dá
pra discordar de Picasso? Ele adulterou os fatos? Ou somente os interpretou a
seu modo (que, aliás, não era só seu)? Os nazistas, com certeza, não
interpretaram o mesmo episódio da mesma forma, com certeza também não gostaram
da obra e com certeza também discordaram dela. Mas caberia discordar? Seria
cabível? Picasso se enganou? Errou? Foi injusto? Foi falso? (Veja mais adiante
argumentos específicos sobre o que pode ser elemento de discordância na
paródia)
O
que eu fiz foi só um exercício de criação. Escolhi um tema, encaixei numa
música que já conhecia, e pronto. Um simples exercício de criação. E trabalhoso,
diga-se de passagem. Não no que se refere à inspiração, a inspiração é intuitiva,
vem num repente, não dá trabalho nenhum; dá até prazer, é um gozo que fecunda; trabalhoso
é o depois, é o desenvolvimento do feto. Pois bem, eu, depois da inspiração, consumi
mais de três meses ‘ruminando’ ideias, rascunhando, reconsiderando, corrigindo,
testando rimas, remodelando frases, encaixando palavras, vasculhando sinônimos,
conciliando letra e melodia, ajustando estrofes e rimas a um contexto real e
não fictício (o que é bem mais difícil, já que me propus a não ‘inventar’
coisas só pra caber nessa ou naquela métrica, pra não ter que trocar essa ou aquela
rima); tentei, enfim, arquitetar uma história coerente com começo, meio e fim, embasada
na realidade conhecida e em versos rimados, numa estrutura musical grande, com 28
estrofes. Só um exercício de criação artística, tendo uma situação moral num fundo político como enredo.
E
acho que fui bem-sucedido.
Deturpei
ou adulterei a realidade? Não, não fiz isso, nem como ‘licença poética’; o que
eu contei está na mídia toda, na imprensa toda, na boca e nos ouvidos de todos.
As deduções são todas minhas, e ainda que condizentes com o que boa parte das
pessoas já pensava, são minhas; e minha matéria-prima foi o conjunto de fatos
dos quais posso tomar conhecimento pela imprensa. Se deduzi errado, foi por ter
acesso apenas aos fatos que estão disponíveis, e que podem não ser a totalidade
dos mesmos (daí eu ter dedicado um parágrafo inteiro, na postagem anterior,
sobre dedução; tal método tem limites). Posso ter errado nas conclusões, mas se
errei foi por falta de dados mais precisos. No geral, já pensei um bocado
(antes, durante e depois de ter feito a letra), e continuo achando que não
errei em nada. Aliás, é o que vou continuar achando até que alguém me apresente
argumentos estruturados o suficiente pra me fazer mudar de ideia; argumentos, não
afirmações teimosas de quem imagina ser o próprio Noé conduzindo a arca com a louvável
responsabilidade de salvar a todos os que estão lá dentro e que nem sabem o que está
acontecendo; argumentos, não chavões ou conceitos pré-estabelecidos como se
fossem verdades bíblicas vindas de um deus infalível; argumentos, não informações
sobre fatos cuja veracidade é só uma suposição tanto pra mim quanto pra quem me
critica, pelo menos por enquanto (conheço um bocado sobre os meandros do poder
para afirmar que, fora dele, nada é conhecido com certeza absoluta a não ser pela ótica da História: meu pai foi assessor do ministro do Interior em
Brasília e eu trabalhei lá por quase cinco anos); argumentos, não ofensas ou rótulos cujos significados, em boa parte dos casos, não são plenamente conhecidos por quem os pronuncia; argumentos,
não desculpas indulgentes que se proponham a justificar o injustificável; argumentos, não constatações complacentes de que as coisas são assim mesmo e não poderiam ser de outra forma.
Continua...
(eu
falei que ia longe...)
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