Sobre
“A Lula e o Zeppelin” (I)
Vamos lá. O link para o vídeo está
logo abaixo do título da postagem pra quem quiser conferir o que eu vou expor.
Este
texto é uma justificativa, talvez não muito breve, sobre a paródia que publiquei há cerca
de um mês. Acho que devo isso, principalmente a meus alunos e/ou ex-alunos. Fui
alvo de vários comentários (uns públicos, outros não,) a maioria elogiando
(alguns, porém, desenvolvendo um raciocínio que eu mesmo não desenvolvi), mas alguns criticando
(e eu imagino que, para cada crítica sobre a qual tomei conhecimento, devam existir algumas outras mais, não manifestas); daí esta justificativa, estou imaginando
quantos mais não criticaram o que fiz sem nunca se manifestar, e quantos outros, ainda, não estão falando em meu nome coisas que eu, em verdade, não disse nem quis dizer.
O
fato é que algumas dessas críticas, ainda que poucas (e digo o mesmo de alguns dos
elogios, também) abordavam a questão de maneira tão desvinculada daquilo que eu
efetivamente quis dizer que eu, a princípio, me espantei com tamanha variedade
de conclusões (daí, em parte, a demora em publicar este artigo, tive que
repensar uma porção de outras coisas): não cheguei nem perto de permitir
concluir o que alguns concluíram, tanto em termos de elogio quanto de crítica.
Ou
seja, posso admitir, agora, que esta exposição vai ser longa, como eu
imaginava; tanto que pretendo publicá-la em mais de um bloco pra não tornar a
leitura muito cansativa. Quero abarcar todo o leque de suposições que eu puder.
Afinal, trata-se de mim mesmo e eu me considero extremamente importante pra
mim, o suficiente pra dizer que não sei o que seria de mim sem mim. Eu
realmente não sei. E pode parecer presunção, mas o mundo inteiro me seria um
nada sem mim.
Pra
começar, pude perceber um traço comum a alguns tipos de elogios e de críticas:
a referência à minha ‘inteligência’. Ainda que de forma não explícita, uns
refletiam uma certa ‘decepção’ a meu respeito, como se pensassem; “Admirava
tanto a sua inteligência, mas agora... Que desilusão...! ”; e outros, ao
contrário, talvez em singela e sincera admiração, pareciam estar dizendo: “Esse
cara é mesmo um gênio! ”.
Eu,
definitivamente, não me considero nem uma coisa nem outra, nem um estúpido e
nem um sábio, apesar de me ser agradável imaginar, de vez em quando, que sou um
gênio pouco reconhecido (vaidade todo mundo tem um pouco); penso a respeito de
mim mesmo que sou apenas curioso, nada mais; li muito, estudei muito, viajei
muito, convivi com quase todo tipo de
gente, da ralé à elite, busquei muito, conheci muito, aprendi muito, e questiono
muito; tanto que chego a ser insuportavelmente irritante pra boa parte das
pessoas que convivem comigo.
Sobre esse aspecto específico dos
comentários, pra começar, vou perguntar: o que é ‘inteligência’?
De acordo com o dicionário, é o
‘conjunto de todas as faculdades intelectuais (memória, imaginação, juízo,
raciocínio e concepção). ’
Inteligência é saber deduzir? Penso
que, em parte, sim, mas apenas em parte; deduzir é somente um método de
raciocinar, um método filosófico cujo nome é antiquíssimo, aristotélico;
qualquer um que treine o suficiente saberá fazer isso. É só uma questão de
treinar a própria mente (“tudo é treino”, como dizia meu amigo Carlos Gaspar).
Vou enfatizar que é só um método, uma maneira de raciocinar; e ainda que seja o
melhor que já apareceu ao longo da história, é só um método; mas presta-se ao
conhecimento da realidade em termos contextuais, não absolutos; é algo que se
presta a confirmar se essa ou aquela abordagem, elaborada a partir das informações
disponíveis que podem ser conhecidas por este ou aquele observador, se encaixa
num modelo que pode, de fato, representar a realidade. Só que as tais
informações disponíveis podem não ser a totalidade das que são necessárias para
uma correta interpretação da realidade. Ou seja, deduzir expõe mais a relação
que se tem com essa ou aquela realidade do que a realidade em si. A realidade,
mesmo, só a conheceremos ao longo da História (e, ainda assim, só as mentes
lúcidas serão capazes de tal coisa, já que a História, ela própria, é
resultante da interação com a realidade).
Inteligência é assimilar
informações? É; em parte, mas é. É questionar? Certamente. É intuir? Um pouco. É
criar? Também. É um pouco de tudo o que o dicionário diz, mesmo.
Dito
isto, devo admitir que essa paródia acabou fazendo com que minha ‘inteligência’
(ou a falta dela) ficasse atrelada, e muito, aos julgamentos dos outros, alguns
deles absurdamente desconexos. E antes de continuar, já que tudo o que escrevi
até aqui é meramente uma introdução, vou repetir que não me considero nem
estúpido nem sábio, só curioso; um meio-termo entre a ignorância e a sabedoria,
uma ponte entre essas duas coisas. Talvez por isso, inclusive, eu goste tanto de fazer o que faço pra ganhar
dinheiro; abandonei há muito tempo todas as pretensões de ir além; gosto do que
faço e, principalmente, para quem eu faço; deixo mestrados e doutorados para os outros. Sou
ponte, tenho plena consciência disso. Posso afirmar tal coisa, com certeza
quase absoluta, porque é somente isso que eu busquei ser a vida inteira, ainda
que de forma inconsciente. Ponte. Nunca quis ser outra coisa. Só ponte. Considerem-me
como tal. Ligo, uno, conecto. Não sou meta, não sou ponto de chegada. Nunca
quis ser. Contento-me em ser o que sou. Ponte. Algo a ser transposto. Quem
quiser chegar a algum lugar que me use. Não sou lugar, não sou destino. Sou
caminho.
Assim
sendo, tenho vários recados a quem se desiludiu com a minha ‘inteligência’,
seja fazendo a paródia ou expondo esta justificativa, e também a quem propagou como
se fossem minhas as palavras e as ideias que eu sequer sugeri.
(continua)
Nenhum comentário:
Postar um comentário