27 de setembro de 2015

Sobre "A Lula e o Zeppelin" (I)

Sobre “A Lula e o Zeppelin” (I)

Vamos lá. O link para o vídeo está logo abaixo do título da postagem pra quem quiser conferir o que eu vou expor.
Este texto é uma justificativa, talvez não muito breve, sobre a paródia que publiquei há cerca de um mês. Acho que devo isso, principalmente a meus alunos e/ou ex-alunos. Fui alvo de vários comentários (uns públicos, outros não,) a maioria elogiando (alguns, porém, desenvolvendo um raciocínio que eu mesmo não desenvolvi), mas alguns criticando (e eu imagino que, para cada crítica sobre a qual tomei conhecimento, devam existir algumas outras mais, não manifestas); daí esta justificativa, estou imaginando quantos mais não criticaram o que fiz sem nunca se manifestar, e quantos outros, ainda, não estão falando em meu nome coisas que eu, em verdade, não disse nem quis dizer.
O fato é que algumas dessas críticas, ainda que poucas (e digo o mesmo de alguns dos elogios, também) abordavam a questão de maneira tão desvinculada daquilo que eu efetivamente quis dizer que eu, a princípio, me espantei com tamanha variedade de conclusões (daí, em parte, a demora em publicar este artigo, tive que repensar uma porção de outras coisas): não cheguei nem perto de permitir concluir o que alguns concluíram, tanto em termos de elogio quanto de crítica.
Ou seja, posso admitir, agora, que esta exposição vai ser longa, como eu imaginava; tanto que pretendo publicá-la em mais de um bloco pra não tornar a leitura muito cansativa. Quero abarcar todo o leque de suposições que eu puder. Afinal, trata-se de mim mesmo e eu me considero extremamente importante pra mim, o suficiente pra dizer que não sei o que seria de mim sem mim. Eu realmente não sei. E pode parecer presunção, mas o mundo inteiro me seria um nada sem mim.
Pra começar, pude perceber um traço comum a alguns tipos de elogios e de críticas: a referência à minha ‘inteligência’. Ainda que de forma não explícita, uns refletiam uma certa ‘decepção’ a meu respeito, como se pensassem; “Admirava tanto a sua inteligência, mas agora... Que desilusão...! ”; e outros, ao contrário, talvez em singela e sincera admiração, pareciam estar dizendo: “Esse cara é mesmo um gênio! ”.
Eu, definitivamente, não me considero nem uma coisa nem outra, nem um estúpido e nem um sábio, apesar de me ser agradável imaginar, de vez em quando, que sou um gênio pouco reconhecido (vaidade todo mundo tem um pouco); penso a respeito de mim mesmo que sou apenas curioso, nada mais; li muito, estudei muito, viajei muito, convivi com quase todo  tipo de gente, da ralé à elite, busquei muito, conheci muito, aprendi muito, e questiono muito; tanto que chego a ser insuportavelmente irritante pra boa parte das pessoas que convivem comigo.
Sobre esse aspecto específico dos comentários, pra começar, vou perguntar: o que é ‘inteligência’?
De acordo com o dicionário, é o ‘conjunto de todas as faculdades intelectuais (memória, imaginação, juízo, raciocínio e concepção). ’
Inteligência é saber deduzir? Penso que, em parte, sim, mas apenas em parte; deduzir é somente um método de raciocinar, um método filosófico cujo nome é antiquíssimo, aristotélico; qualquer um que treine o suficiente saberá fazer isso. É só uma questão de treinar a própria mente (“tudo é treino”, como dizia meu amigo Carlos Gaspar). Vou enfatizar que é só um método, uma maneira de raciocinar; e ainda que seja o melhor que já apareceu ao longo da história, é só um método; mas presta-se ao conhecimento da realidade em termos contextuais, não absolutos; é algo que se presta a confirmar se essa ou aquela abordagem, elaborada a partir das informações disponíveis que podem ser conhecidas por este ou aquele observador, se encaixa num modelo que pode, de fato, representar a realidade. Só que as tais informações disponíveis podem não ser a totalidade das que são necessárias para uma correta interpretação da realidade. Ou seja, deduzir expõe mais a relação que se tem com essa ou aquela realidade do que a realidade em si. A realidade, mesmo, só a conheceremos ao longo da História (e, ainda assim, só as mentes lúcidas serão capazes de tal coisa, já que a História, ela própria, é resultante da interação com a realidade).
Inteligência é assimilar informações? É; em parte, mas é. É questionar? Certamente. É intuir? Um pouco. É criar? Também. É um pouco de tudo o que o dicionário diz, mesmo.
Dito isto, devo admitir que essa paródia acabou fazendo com que minha ‘inteligência’ (ou a falta dela) ficasse atrelada, e muito, aos julgamentos dos outros, alguns deles absurdamente desconexos. E antes de continuar, já que tudo o que escrevi até aqui é meramente uma introdução, vou repetir que não me considero nem estúpido nem sábio, só curioso; um meio-termo entre a ignorância e a sabedoria, uma ponte entre essas duas coisas. Talvez por isso, inclusive, eu goste tanto de fazer o que faço pra ganhar dinheiro; abandonei há muito tempo todas as pretensões de ir além; gosto do que faço e, principalmente, para quem eu faço; deixo mestrados e doutorados para os outros. Sou ponte, tenho plena consciência disso. Posso afirmar tal coisa, com certeza quase absoluta, porque é somente isso que eu busquei ser a vida inteira, ainda que de forma inconsciente. Ponte. Nunca quis ser outra coisa. Só ponte. Considerem-me como tal. Ligo, uno, conecto. Não sou meta, não sou ponto de chegada. Nunca quis ser. Contento-me em ser o que sou. Ponte. Algo a ser transposto. Quem quiser chegar a algum lugar que me use. Não sou lugar, não sou destino. Sou caminho.
Assim sendo, tenho vários recados a quem se desiludiu com a minha ‘inteligência’, seja fazendo a paródia ou expondo esta justificativa, e também a quem propagou como se fossem minhas as palavras e as ideias que eu sequer sugeri.

(continua)


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