23 de julho de 2012

Sobre "O Viajante" (1)


Sobre “O Viajante” (1)

Hesitei muito antes de publicar os capítulos 34 e 35 (e talvez também o 36) de “O Viajante”, em parte porque o teor dos mesmos, em seu conjunto, beira o místico ou o metafísico, e em parte porque certamente os mais entendidos em biologia e evolução vão se remoer diante de afirmações e indagações tão heterodoxas e atrevidas que beiram o completo absurdo ou a mais irresponsável estupidez.

Entretanto, resolvi publicá-los por quatro razões básicas...

Em primeiro lugar, para me manter fiel ao que me propus a fazer quando escrevi o livro, ou seja, servir como uma espécie de ‘diário de pensamentos’ que retratasse a evolução das minhas próprias formas de pensar sobre os mais variados temas. Assim sendo, se tais capítulos foram escritos é porque foram pensados e, portanto, por mais absurdos que possam parecer hoje em dia, eu não os poderia excluir; estaria sacrificando uma parte de meus próprios pensamentos passados.

Em segundo lugar, para manter o compromisso assumido e exposto na ‘Apresentação’ do blog de preservar o teor original dos textos alterando somente a redação. A esse respeito, entretanto, o capítulo 34, particularmente, foi bastante alterado por ‘enxertos’ contendo indagações que remetem a informações que eu não possuía na época em que o escrevi; fiz isso primeiro porque achei que o texto ficaria mais completo com as informações adquiridas posteriormente ao longo dos anos e, segundo, porque não comprometeria, como acho que não comprometeu, a ideia central do capítulo e nem o papel do mesmo no conjunto da obra; os capítulos seguintes não terão que sofrer nenhuma modificação essencial devido a essas alterações ou ‘enxertos’.

Em terceiro lugar, porque ao longo dos mais de vinte e cinco anos posteriores à elaboração desses capítulos, pude ter acesso a informações e teorias que, de certa forma, podem servir de embasamento e/ou dar algum respaldo, ainda que mínimo, para as alegações que fiz. A questão dos universais, por exemplo, permeou quase toda a filosofia grega antiga, bem como o vitalismo, desde Tales de Mileto até Plotino. Este último, particularmente, oferece um embasamento razoavelmente grande às alegações feitas nos referidos capítulos, notadamente sua teoria sobre as ‘emanações do Uno’ e principalmente seu conceito de ‘Espírito do Mundo’ ou ‘Intelecto’. E eu ainda poderia citar, mesmo correndo o risco de estar sendo demasiadamente imaginativo, a obra do psicanalista Carl Jung e sua teoria de um ‘inconsciente coletivo’ e seus arquétipos, combinados com elementos de teoria quântica (conhecidos apenas superficialmente por mim); e, mais recentemente, os trabalhos do biólogo inglês Rupert Sheldrake e sua teoria dos ‘campos mórficos’ (ou ‘morfogênicos’) e também a versão de evolução do homem proposta por André Bourguignon, neurologista e psiquiatra francês, em sua obra “O Homem Imprevisto” que, se por um lado não me fornece nenhum embasamento explícito, por outro deixa ‘brechas’ onde minha argumentação possa ser encaixada.

E, por fim, em quarto lugar, porque eu pensei sobre essas coisas sem nunca ter tido contato nenhum, talvez nem mesmo inconsciente, com nenhum dos trabalhos mencionados no parágrafo anterior. A única educação formal que eu tive antes da elaboração dos tais capítulos foi o Colegial (atual Ensino Médio), e disciplinas como filosofia e/ou sociologia não faziam parte do currículo escolar da época e, apesar de eu ter sido um leitor assíduo desde os tempos de infância e adolescência, ainda não estava numa faculdade e tais tipos de leitura eram, no mínimo, desestimuladas, quando não alvos de extrema restrição num contexto de ditadura militar. Sócrates eu conhecia mais ou menos, Platão era apenas um nome e os demais eu nem sabia que sequer haviam existido, nem Plotino, nem neoplatonismo, nem Jung e muito menos Sheldrake. Ou seja, o simples fato de eu ter sido capaz de pensar sobre tais coisas espontaneamente é, a meu ver, um alicerce razoavelmente sólido a embasar o que expus nos referidos capítulos, principalmente a ousadia de propor a existência de um conhecimento não racional do ser vivente sobre o que é exterior a ele, uma espécie de consciência coletiva não definida pela cultura ou pela sociedade.

No mais, este texto se adéqua aos objetivos do blog: promover o debate e desafiar o intelecto.



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